quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Secretário executivo do governo negociou com quadrilha


BRASÍLIA - O secretário executivo da Secretaria de Portos da Presidência (SEP), Mário Lima Júnior, negociou com a quadrilha acusada de vender pareceres técnicos a liberação de um projeto de interesse do grupo investigado na Operação Porto Seguro, da Polícia Federal. Número 2 da pasta chefiada pelo ministro Leônidas Cristino (PSB-CE), ele se reuniu com o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira, apontado pela PF como chefe da quadrilha, para tratar da construção de um porto privativo na Ilha de Bagres, em Santos, a ser explorado por empresa ligada ao ex-senador Gilberto Miranda. E marcou encontro com o ex-parlamentar, em São Paulo, em viagem bancada com dinheiro público. "Ele (Lima) vai no seu escritório. Aí, você faz um contato direto. A partir de agora, o céu é o limite", disse Vieira em conversa com Miranda, gravada pela PF. As escutas mostram o roteiro traçado pelo ex-diretor da ANA para cooptar o secretário executivo. Segundo a PF, o porto seria explorado pela São Paulo Empreendimentos, ligada ao ex-senador, que tem como sócio o empresário Luís Awazu. O objetivo era que o governo o declarasse de utilidade ou interesse público, o que dependia do aval da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Secretaria de Patrimônio da União (SPU), além da SEP. A PF flagrou as negociações com Lima em abril deste ano. No dia 20, ele se reuniu com Vieira e tratou dos interesses da empresa. Os dois ligam para o ex-senador e, com o telefone na função viva-voz, acertam encontro para seis dias depois, em São Paulo. "Será um prazer grande", diz Lima a Miranda. Helicóptero. De acordo com as escutas, o secretário executivo almoçaria com Vieira em Santos. Depois, seguiria para o escritório do ex-parlamentar, que ofereceu uma carona de luxo para a dupla: "Você não quer que eu mande o helicóptero levar e pegar vocês?", pergunta ao ex-diretor da ANA. "Não, pelo amor de Deus! Você quer derrubar a gente?", reage Paulo Vieira, dando em seguida orientações para o encontro.